quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Batom da Viuva -Negra

Ao chegar em casa trajando seu luxuoso longo preto, seu véu também preto e com uma maquiagem pesada na face, Beatriz pode respirar, finalmente a alforria, de cinco décadas de maus tratos, chegou ao fim. Começou despindo o véu e desmanchando o coque perfeitamente feito ainda no hall do apartamento, enorme e vazio, passou flutuando pela sala com seus longos e belos cabelos brancos soltos, ouvindo o mórbido silêncio ricocheteando as parades de sua casa, pois havia dispensando as empregadas naquele domingo cinza.
No quarto despiu-se, olhou seu corpo enrugado no espelho e riu-se de tola que era, sentou na frente da penteadeira, para finalmente retirar a maquiagem pesada feita para dar ilusão de caira em prantos com o saber da morte de seu marido, enquanto a verdade era que o seu estado de espirito era de êxtase. Agora, natural, pôs uma camisola feita do seu vestido de noiva e resolveu comer uma deleciosa refeição que ela mesma iria preparar.
Na cozinha preparou-se para cozinhar seu prato prediléto, que Aureo detestava e por isso a proibira de comer, tão contente, semi-nua e perdida estava a cozinhar. Quando a refeição estava pronta e foi arrumar a mesa tão tonta serviu dois lugares, gargalhou da peça que sua memória havia pregado e atirou prato, taça e talheres contra a parede, assim percebeu que seu único companheiro estava morto, comeu angustiada por sua recente descoberta, já anoitecia e ela não sabia o que fazer.
Sentada na poltrona dele, seu opositor, maior inimigo e único companheiro, já morto, que tinha uma enorme vista para principal janela de seu apartamento, debulhava lágrimas no ritmo da tempestade, que naquele momento lavava sua memória suja e seus medos crônicos. Quando a tempestade ia chegando ao fim, sua lágrimas iam secando das suas rugas de seu rosto, por fim já não havia medo.
Na sua cama passou horas acordada, apenas recordando, até que caiu no sono, depois viveu plenamente feliz e completamente só, entendendo antes de seu fim que aquilo era a proposta de sua liberdade.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Matriarcal

Tire o cabelo do rosto, não seja desleixada, por favor, penteie-se, assim não arranjará homem, ou mulher, ou amante algum. Assim toda desengonçada não terá atenção que merece, tão naturalmente bela sendo um estorvo, ah garota não deixe sua família envergonhada, seria a única garota dessa casa mal-amada , como isso nos afetaria, vamos ponha um vestido curto, pinte-se e domine sua lindas madeixas , vamos que já está anoitecendo e como sempre a casa estará cheia, cheia de futuro esperança para todas nós todas, afinal você quer ter o que comer amanhã, certo? Pois bem, sabia que quando a acolhi que iria trabalhar, pois bem.
Uma garota como você, mesmo deflorada não iria morar aqui fazendo faxina, se entre suas pernas muitos irão querer explorar, ira fazer fortuna, quem sabe até uma casa como essa ter, sabe que alguns deles quando apaixonados são bem generosos, os homens e mulheres que aqui freqüentam possuem fortunas, com tempo ensiná-la-ei tudo para agradar seus amantes. Esse beijo que dou em sua testa é só para que saiba que é minha favorita e não se esqueça de um belo decote.

sábado, 28 de agosto de 2010

Motivação

De novo ele chega em casa num estado deplorável, ainda posso sentir o cheiro das calcinhas baratas que ele pegou. Estou aqui trancada no quarto enquanto ele destrói a sala de estar, nunca pensei que homem vindo de família rica fosse desse feitio, mas nenhum membro dele ira me perfurar essa noite, por isso sei que meu rosto sentirá o peso de suas mãos.
Quando jovem o via tão elegante passar por mim, tão belo como sempre o fora e flertando comigo, fui uma boba em ver amor nos ritos sociais. Agonia do bêbado me violentar eu sinto agora, de tantas lágrimas não posso ler a primeira parte do que escrevi, essas lágrimas de medo caem pesadas nas páginas desse diário, que contem meus segredos, queria ter coragem para ser adultera, mas nem para vingança de adultério eu sou criada, como irei eu me defender de suas agressões.
Ele não sabe, mas eu estive grávida, livrei a criança desse monstro, não poderia fazê-lo viver no terror que eu vivo, estou tão fodida que nem a alegria de ser mãe eu vou ter, mas não digo isso a ninguém. nunca vou admitir que isso que todos acham que é um sonho na verdade é um pesadelo, afinal as putas que ele come não freqüentam nosso circulo, se ele pensar em me largar eu o mato antes, pois antes de tudo meio orgulho está intacto.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Voyeur

Era triste que sua beleza era tudo que ele tinha a oferecer, seu mundo repleto de futilidades não tinha alma de herói, ao menos ele poderia usar heroína. Calado era magnífico só que quando abria a boca era o verdadeiro horror.
Desolada vive nossa romance, eu era uma verdadeira voyeur a nossa a vida a dois, não me interessava pela sua vida, as vezes ele perguntava por mim, sobre mim, eu simplesmente o beijava, calando-o por fim. Ele não servia para conversar e falar sobre minha vida gastaria muito tempo.
A verdade que eu era tão bela quanto ele, pensava em manter nossa relação pela futura cria, mas não o apresentava aos meus amigos, a minha família e sequer a minha casa, mas eu gostava tanto de olhar para ele.
Uma noite em seu apartamento ele me disse “ Rosa, eu te amo” eu o olhei como sempre, levantei olhei-me ao espelho e não responde, nesse momento Victor levantou da cama e bateu com o meu rosto no espelho, eu desmaiei. Quando acordei tinha pontos no rosto e estava em um hospital, depois disso nunca mais ouvi falar de meu belo menino vazio.

Caro Senhor

Não posso mais servi-lo, não sei mais estar a sua sombra, querido, eu me pergunto como vai viver sem minhas coxas? Não poderá eu sei, mas isso não me importa agora, não sou sua menina e você já não é um rapaz.
Claro que me lembro dos dias de sol e também das noites frias sozinha no moquifo que me deste. Eu não quero mais te tocar, que nojo seu corpo sobre o meu, não vou passar minha vida sem família, apesar de todos saberem que eu sou uma verdadeira vadia, então se lembre, deixe aquela quantia, que a vida tá cara, para mulher sozinha qualquer.
Não vou deixar você partir, sem uma ultima dança. Comporte-se e tocará meus seios, sentirá minhas pernas e beijará meu ventre, só que não terá meus lábios.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O asco de meus olhos,
O asco de meus cabelos,
O asco de meus seios,
O asco de meu rosto,
O asco de meu ventre,
O asco de meu ser.
O meu asco é a forma ousada como você me descreve.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Dizeres

Deodora com seu corpo de tinta do século e suas vestes do século passado desfilava pelo calçadão a beira mar, seus ombros desnudos a mostra para senhoras de classe que por ali passavam, não temia a reprovação dos olhares delas, já cansados e auxiliados por aparelhagem moderna. Seu andar gingado remetia a uma dança negra-pagã, sua postura era de afronta para mascarar sua personalidade dócil, uma boa menina, mas quem diria?
Ouvia rock moderno e samba arcaico, seu sorriso ingênuo era privilégio para poucos, como eu me orgulho de tê-lo visto. Amante sigilosa nunca retirava a mascara de seu cúmplice galanteador que lhe jurou amor e a feriu com seu membro, violou-a sem desleixo e nem pretexto, a sangrou, mas quem diria?
Eu como fico? Indefeso por não ter o convite de bailar com ela, é como já sabia, a verdade nem sempre tem que ser dita e até mesmo eu, um príncipe, que proclama justiça dessa vez não queria, Deodora me puxe para rodar, vamos rodar que eu vou mostrar meu jazz e você vai gozar, mas quem dirá?

terça-feira, 22 de junho de 2010

Igor

Tudo que leva minha assinatura vira obra, vira prima, não possuo a humildade para ser modesto, mas sim arrogância de ser perfeito, sou mais que perfeito, e minha prosa deve ser aclamada, toda veneração sobre meu verso é pouco e humilde, quero mais do que podes me dar, não aceitarei menos do que mereço e seu desleixo é pobre-ignorante, você só pode me amar e há de me amar, pois toda mancha de tinta de meu traço é mais do que você.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Canção do Perdão

- Reze, essa ultima prece.
Jogada nas escadas da porta da candelária, estava eu, ali morrendo, mas não podia dar o braço a torcer, era de fato minha ultima chance de fazer uma oração, finalmente diria a ele que sou crédula, mas de que vale a salvação, quando minha vida foi perdida?
Augusto suplicava do meu arrependimento cristão, que nunca existiu, como eu podia ter um remorso o qual não existe, e nunca existirá, sou dada aos fatos e os fatos são indiscutíveis, não sou digna de perdão.
- Luiza, reze e será salva.
Não quero ser salva de mim, isso Augusto, homem espiritualizado e nobre, não era capaz de entender, atender seu pedido de entrar ao recinto santo e fazer a divina suplica, seria abandonar os vestígios de vida que me restavam.
Aqui estirada nessas escadas, após de me soltar de seus braços que me levavam até a igreja, irei permanecer parada e se existir em me levar para dentro, não irei correr, pois nem forças para levantar eu tenho, mas rebater-me-ei até a morte me alcançar, sem deixar de ser Luiza da Boca de Mel.

Felícia

Como posso ser feliz, tão sozinha nessa terra de procriação, se eu não sou como eles, não sou como elas, nem ao menos sou como sou.
Felíca sempre pensava dessa forma, nem ao menos um dia via as coisas de forma diferente, ninguém era tão triste e por culpa própria, nem ela entendia o porquê de agir tão diferente dos demais.
As sombras caçoavam do fato dela se recusar a procriar, pois devia por no mundo criatura tão confusa quanto ela? Ela não achava que era justo com a cria carregar o manto de seus martírios, soava como o vento seus pensamentos na vida de qualquer que a escutasse, porque para eles vazios, tanto o vento quanto as palavras ricocheteavam em suas cucas ocas, mas como nossa menina poderia contemplar seu nome, recusava as oportunidades que a naturalidade a oferecia, essa normatividade nada lhe convém, como sentiria a pureza da alegria.
Aflita e perdida se tocou, se sentiu, degustou de tudo que poderia trazer a si e com ajuda de seus dedos encontrou a essência da felicidade.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Dialogo

- Você me ama?- perguntou Lia
- Como eu posso saber?- respondeu Cezar
Aos berros retrucou
- Caralho, como você me responde uma pergunta desse tipo, com outra pergunta?
Muito sereno retrucou
- Eu não sei o que é o amor pra você, então como eu posso dizer que eu te amo, se saber o que é o amor?
Ela cortou o longo dialogo
- Porra você podia dizer sim, sem ficar ai relativizando, sabe quando eu te conheci eu achava esse seu jeito sensual, mas você ainda é o mesmo pré-adolescente pelo qual eu tive interesse.
Cezar tenta argumentar, mas antes de conseguir Lia o agarra pelas pernas e o encara e continua.
- Porra cara, quando você me come você, nem ao menos me olha nos olhos, eu quero que você me foda e me encare, eu te amo, ainda te amo.
Ele já não tinha o que falar, agarrou-a pelos cabelos e a comeu como nunca tinha feito. No dia seguinte terminou o namoro, pois não agüentava esse tipo de pressão que ela fazia.

domingo, 11 de abril de 2010

Homo

Homos levanta o dia como vento dos cantos, que vão levando a poeira dos sonhos tristes, que não chegam a ser pesadelos. Dentro de casa príncipe jovem existe sangue de rei dos campos, a morte assombra o nobre como a fome assombra o pobre, queria eu temer mais que temer o nada cheio de fabulas, mas sou tão nobre quanto pobre, sou sonhador, não sou, sou homos que levanta o dia como vento dos cantos, que assopram minha poeira.

terça-feira, 23 de março de 2010

Nostalgia

Pela primeira vez eu vou me expor num texto, na verdade pela primeira vez não esconderei minha faceta atraso de uma personagem. Eu tive bons amigos no passado, num passado não tão distante, construímos memórias belíssimas, que não servem de nada, além de me causar uma terrível dor, dor de nostalgia, hoje estava eu limpando meu Orkut e decidi que eliminaria essas pessoas da minha vida, mas quando eu fui apagar o mais distante, idiota e que eu nunca o considerei como amigo, eu senti uma dor tão grande de perda, a mesma dor quando eu vivi enquanto eu via meu avô sendo enterrado e pior que eu mesma a causava essa dor, não tenho motivos pra ser sado maso, de jeito algum. Decidi odiá-los, mas como posso o odiar aquilo que um dia eu amei mais que tudo?
Eu simplesmente não posso odiar essas pessoas, nem ao menos esquecê-las, eu decidi deixá-las ali no meu grupo de amigos no Orkut, sendo a classe mais inferior de conhecidos, porque hoje aceitamos quaisquer um lá, é cool ter milhões de amigos naquela merda, sendo o mais distante que posso ficar sem ter essa dor me perturbando cada minuto do meu dia, como eu odeio essa nostalgia, como eu odeio amá-los, se estivessem mortos eu já os tinha superado, eu espero que morram logo, pois eu já não agüento mais a dor da saudade, eu já não agüento fato que eles me superaram. Então vou eu desativar a possibilidade de ver os meus visitantes recentes, para que eu possa segui-los e saber de suas vidas, sem que eles saibam de minha nostalgia.

terça-feira, 16 de março de 2010

Faminta

Clara não merecia a dor que sentia toda vez que ousava tentava amar Rodrigo, ele carregava um monstro entre as pernas que adentrava seu corpo com fome. A coitada não ficava sem voz com os berros que dava durante a noite por algum milagre, eu nunca entendi como ela continua a servir aquele ogro, que no meio dos berros havia suspiro de alegria e até prazer. Eu mesma Ana Guimarães já vi a criatura de Rodrigo, eu só a beijei, não tive coragem, mas aquilo tem fome de tão grande, entra nela arrancando seu ventre, arranca seu ar e destruindo suas barreiras e tornando-a impura, suja e lúdica.
E agora eles foram embora, pra tão distante me deixando faminta, de curiosidade, de necessidade e de medo.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

oco

A dança dela já mais dócil, antes ela era rústica e grotesca, agora ela é linda, educada e fina, antes não era nada, era suja e era burra. Alice foi domada, destruíram sua essência de bicho, fizeram dela uma dama digna de cortejo, mas com tanta mudança fizeram-na morta.
Alice não apreciava a vida, ela não era dona de seu corpo e nem de seu destino, mas sim corpo e o destino imposto eram donos dela, fria e vazia viveu sua vida.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Ser

Ela de baixo do choveiro sentia sua alma sendo lavanda, tocava seus seios e depois seu ventre, sabendo que tudo tinha acabado, aquela relação que já não tinha vida e amor. Receiava pelos planos e lembranças, que com ele tinha construido, mas também sentia alivio de não ter tido ódio, o fim era levado junto com água que descia pelo seu corpo, sentindo-se livre pra ama-lo, como já não mais podia, sentia liberdade para ter saudades de tudo que havia vivido. Mão que levava o desenho de suas formas, não sentia mais a prisão de sua alma, limpida ou suja, mas livre do medo de odiar aquele que foi seu amor.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Nada como uma linda família- texto 1

Engraçado que às vezes quando acordamos numa manhã de sol, que percebemos como o ódio nos consome e que ele é sim o sentimento mais potente e presente nas nossas vidas. Foi num dia desses que Lúcia puxou o gatilho, não mais a fim de aturar a vida com a aquelas frustrações, ela resolveu matar, sim ela era covarde para um suicídio, mas ela, como todo mundo, tinha um culpado por todas as suas desventuras, seu querido pai. Obcecada pelo ódio com o antagonista planejou a beira mar como o mataria, toda a sua vida com ele foi passando, por algum acaso as lembranças trouxeram mais ódio do que ela sentia na manhã. Chegou a conclusão que alguns tiros seriam mais fáceis de encobrir, mas como não tinha uma arma, contentou-se com uma faca.
Ao ver seu pai ali na sua frente, resolver compartilhar sua dor e tudo que ele havia feito com que ela se sentisse, chorando e frágil, ele olhou pra ela e suas palavras ecoaram, “eu nunca te amei.” Ela sussurrou, “eu sei.” com uma habilidade surpreendente dilacerou a garganta do seu velho pai e continuou, “e por isso não tenho remorso algum pelo que acabo de fazer, papai.”