terça-feira, 22 de junho de 2010

Igor

Tudo que leva minha assinatura vira obra, vira prima, não possuo a humildade para ser modesto, mas sim arrogância de ser perfeito, sou mais que perfeito, e minha prosa deve ser aclamada, toda veneração sobre meu verso é pouco e humilde, quero mais do que podes me dar, não aceitarei menos do que mereço e seu desleixo é pobre-ignorante, você só pode me amar e há de me amar, pois toda mancha de tinta de meu traço é mais do que você.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Canção do Perdão

- Reze, essa ultima prece.
Jogada nas escadas da porta da candelária, estava eu, ali morrendo, mas não podia dar o braço a torcer, era de fato minha ultima chance de fazer uma oração, finalmente diria a ele que sou crédula, mas de que vale a salvação, quando minha vida foi perdida?
Augusto suplicava do meu arrependimento cristão, que nunca existiu, como eu podia ter um remorso o qual não existe, e nunca existirá, sou dada aos fatos e os fatos são indiscutíveis, não sou digna de perdão.
- Luiza, reze e será salva.
Não quero ser salva de mim, isso Augusto, homem espiritualizado e nobre, não era capaz de entender, atender seu pedido de entrar ao recinto santo e fazer a divina suplica, seria abandonar os vestígios de vida que me restavam.
Aqui estirada nessas escadas, após de me soltar de seus braços que me levavam até a igreja, irei permanecer parada e se existir em me levar para dentro, não irei correr, pois nem forças para levantar eu tenho, mas rebater-me-ei até a morte me alcançar, sem deixar de ser Luiza da Boca de Mel.

Felícia

Como posso ser feliz, tão sozinha nessa terra de procriação, se eu não sou como eles, não sou como elas, nem ao menos sou como sou.
Felíca sempre pensava dessa forma, nem ao menos um dia via as coisas de forma diferente, ninguém era tão triste e por culpa própria, nem ela entendia o porquê de agir tão diferente dos demais.
As sombras caçoavam do fato dela se recusar a procriar, pois devia por no mundo criatura tão confusa quanto ela? Ela não achava que era justo com a cria carregar o manto de seus martírios, soava como o vento seus pensamentos na vida de qualquer que a escutasse, porque para eles vazios, tanto o vento quanto as palavras ricocheteavam em suas cucas ocas, mas como nossa menina poderia contemplar seu nome, recusava as oportunidades que a naturalidade a oferecia, essa normatividade nada lhe convém, como sentiria a pureza da alegria.
Aflita e perdida se tocou, se sentiu, degustou de tudo que poderia trazer a si e com ajuda de seus dedos encontrou a essência da felicidade.