terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Navalha

Olhou no espelho e percebeu que não se identificava, aquelas formas não a representava, presa num corpo que não lhe cabia, levou 24 anos pra perceber que sua infelicidade era por causa disso, sou eu que não estou ali, no reflexo. Cada pulso de seu coração gritava pra partir seu algoz em mil pedaços, vergonha e angustia espalhas pela face da mulher, ela sentia-se assim, seu nome de bastimos era Pedro, como esse nome podia ser tão não representativo. Olhou pro seu corpo viu coisas que faltavam e coisas que sobravam, assim deitou no chão do banheiro e sonhou, sonhou com curvas, seios e vagina, seus cabelos seriam longos e seu rosto deveria ser felino, queria ser musa e diva. Pobre menino, pensaram todos, depois de tão velho queria ser moça, diziam alguns, mas ela sabia que o processo demorara por temor, não por falta de certeza, mas não poderia mais nenhum dia ficar presa na sua prisão, não importam o que todos diziam a metáfora da prisão era sim algo de mais adequado pra descrever aquele corpo, aquele nome e aquela vida. Ouviu alguns por vezes a chamarem de viado, não era viado nenhum, era uma mulher, respeito ela queria. Com a ajuda de deus e cirurgiões plásticos ela viu seu corpo mudar, viu seu membro sumir e dele nascer seus lábios, com tempo se amou, amou o outro se viu mulher, depois de muito tempo pro mundo Pedro virou Myllena. Me contaram outro dia que ela fez 29 anos, deu uma festa dançou a noite toda e que esta noiva, imagina vai casar de branco na igreja católica e sonha com filhos lindos, dessa menina ninguém vai duvidar.

Nenhum comentário: